terça-feira, 25 de novembro de 2008

Fórum

Profissionais da Educação – Reflexões


Anéte Terezinha Severo

Da mesma forma como a colega Cristiane Raquel Diel, vivo corajosamente a idêntica realidade, dura e cruel. Assim, como ela, eu também tenho duas nomeações na rede estadual, uma de 12 anos e a outra de15 anos, tendo como piso salarial de R$ 288,00 em cada matrícula, e os penduricalhos que ela citou. Estes são: parcela autônoma, triênio, e unidocência. Numa das matrículas não tenho turma, mas atendo a todos os alunos dos anos iniciais da escola que apresentam dificuldade na aprendizagem. Chamamos este espaço de Laboratório de Aprendizagem. Este é o nome, mas não tenho material pedagógico variado para que possa realizar um trabalho de qualidade, tudo que tenho, é o que venho confeccionando com sucata, somados aos recursos que o PEAD tem me alcançado através das leituras e troca de experiências proporcionadas ao longo do curso. Este atendimento é realizado na biblioteca, em alguns momentos, também atendo os alunos da disciplina, que buscam livros, pois não temos uma pessoa para atender a biblioteca. Quando falta um professor, os alunos que eu deveria atender no laboratório são mandados para casa sem atendimento, porque eu tenho que atender aquela turma que ficou sem o professor. Por eu não ter regência de classe fica parecendo que não trabalho, pois nestas 22 horas não tenho direito a unidocência. Ridículo! ! ! Trabalho 44 horas semanais, 40 horas com os alunos, sem professor de Educação Física, sem hora para planejar, isto devo fazer em casa, na madrugada, pois é este o tempo que sobra para fazê-lo. Existem ainda, as famosas horas pedagógicas que sempre acabam sendo reuniões administrativas, pois ultimamente como uma colega colocou anteriormente, o dialogo se fechou, estamos vivendo uma nova ditadura, porém mascarada. O que mais ouvimos nas reuniões pedagógicas é: não pode, a ordem vem de cima, a Coordenadoria ditou e vamos cumpri-la, de preferência sem questionamentos. È dessa forma que os gestores das escolas, da rede estadual, estão chegando para nós. Sem falar que não temos material didático, tudo que temos é o quadro de giz, um televisor, um DVD, um reto projetor, e os livros didáticos que o programa do governo oferece. Para a Educação Física utilizamos material de sucata, e inventamos diferentes brincadeiras. Acredito que a informatização na escola da rede estadual ainda é um sonho. Pergunto: Para onde vai a educação brasileira quando temos que trabalhar nestas condições, completamente desrespeitados, tanto professor, quanto aluno? EU me vejo fingindo que ensino, pois que viabilidade existe para que eu possa desenvolver um bom trabalho, se ora sou professora de “reforço”, ora bibliotecária, ora substituta? E ainda entende-se que devo receber 50% a menos sobre o básico nesta matricula, por não ter regência de classe. No final de tudo isso, o governo também finge que me remunera, segundo meu contracheque, tenho direito no final de cada mês de receber entorno de R$ 650,00 pela jornada de 44horas de exercício. Mas se estamos nesta profissão, com todas estas dificuldades é porque realmente existe uma palavra chave amor. As pessoas que estão à frente, que governam, criam as leis estão pouco preocupadas com o futuro de nossas crianças e jovens. Como eles poderão acompanhar a evolução frenética que a globalização nos impõe, quando estão entregues a uma educação nestas lamentáveis condições. No papel temos tudo, mas na prática temos é nada, esta que é a triste realidade. Eu tenho muito que agradecer ao PEAD, porque fez com que eu me sentisse melhor como pessoa e como profissional, está fazendo a diferença em meu dia a dia, está me levando a compreender situações, acontecimentos na educação que anteriormente nem tinha conhecimento. Esta disciplina, por exemplo, me levou a conhecer o PPP e o Regimento Escolar que nunca havia me sido apresentado antes. E assim, poderia citar vários exemplos. Com tudo, não desisto de sonhar, de acreditar numa educação de qualidade, e para todos. Não posso deixar de reverenciar o município de São Leopoldo por estar dando sua contribuição à educação através da parceria com a Ufrgs, e a nos profissionais em educação oportunizando-nos a graduação.
Somos sabedores que na rede estadual de ensino o plano de carreira existe, mas não é respeitado. Temos que recorrer à justiça para fazê-lo valer. As promoções existem, mas não acontecem. O piso de R$ 950,00 para 40 horas é injusto, é outro desrespeito para conosco. E ainda como se não fosse o suficiente, tem toda uma polemica em torno, por parte da governadora. Em minha opinião, isto é para desqualificar a educação, pois povo não culto não questiona, não busca, é conformado, portanto, não sabe votar.
Quanto ao sindicato, penso que tem um papel importante, mas também está perdendo força, está desmotivado. Teria que ter mais empenho e buscar força junto a toda a comunidade escolar, pais, alunos. . . Envolver todos que de uma ou outra forma fazem parte, porque lutar por uma educação de qualidade é dever de todo cidadão, assim como também ter educação de qualidade é direito de todos.

Um comentário:

Fabiane Penteado disse...

Oi Anete,

De fato na teoria as leis da educação são para todos. Mas na prática são poucas as instituições que se beneficiam delas. Tenho acompanhado as noticias nos jornais, tv local, depoimento de professores da rede estadual (como o seu, por exemplo) e a situação esta cada vez mais delicada. Sabemos que 99% do desempenho (seja ele bom ou não) da educação estadual é de responsabilidade do governo do estado (como não poderia ser de responsabilidade de outro órgão), e este, neste caso, com esta governadora tem passado por turbulentos acontecimentos.
Pouco posso falar sobre dar aula para o estado...pois venho de outra realidade (o privado)...
Mas admiro vcs, pela garra, pela motivação, carinho e respeito com que encarram suas atividades em seus dia-a-dia. E fico imensamente feliz em saber que o PEAD tem sido uma ferramenta que tem possibilitado outros olhares para com a educação, que esteja fazendo a diferença em sua vida acadêmica e profissional. O objetivo do estudo é este: que o conhecimento adquirido possa ser aplicado na prática.

Uma abração,
Fabi